Abstracionismo Latim abstractio.Francês Abstractionnisme. Séculos 20 e 21. Como contraponto à arte figurativa e/ou naturalista, esta designação abrange amplo segmento de obras de arte, tão extenso que passou a ser necessário determinar-lhe sentidos particulares (abstracionismo geométrico, expressionista, lírico, etc). O abstracionismo não é uma criação exclusiva da arte moderna, as pinturas rupestres da idade pré-histórica apresentavam nítidas incursões pela arte abstrata; a cerâmica marajoara dos índios brasileiros revela primorosa decoração geométrica; o mesmo poderia dizer-se de numerosa produção artística dos povos indígenas no mundo inteiro.

No início do século 20, alguns pintores, como Kandinsky (1866-1944) e Braque (1882-1963) passaram a reproduzir a realidade como a “entendiam”, não se prendendo às manifestações naturalistas das representações tradicionais. O primeiro confessava que as formas que usava “vinham delas próprias, criavam-se a si mesmas enquanto as pintava, frequentemente surpreendendo ele próprio”. Cézanne (1839-1906) um dos artistas que se inspirou com essa orientação, afirmava que o pintor deveria ter uma visão própria das coisas, uma ótica pessoal. Outro corifeu do abstracionismo, Paul Klee (1879-1940), defendia que as formas da natureza deveriam transformar-se “em imagens, as quais, em termos abstratos, podem chamar-se construções, mas (mesmo assim) serem designadas como as associações (visuais) que lhes deram origem, como uma estrela, vaso, planta, animal ou cabeça de uma pessoa”.

O abstracionismo lírico surgiu como reação à aparente frieza do abstracionismo geométrico, mas sem aceitar os arroubos emocionais do abstracionismo expressionista. A corrente lírica partiu da observação e representação poética da vida e da natureza, encantando-se com árvores, cidades, luzes, recordações, aparecendo assim em quadros brasileiros de Antonio Bandeira (1922-67) um dos seus expoentes no Brasil, e em Cícero Dias (1907-2003), Manabu Mabe (1924-97) e Tomie Ohtake (1913).

O expressionismo abstrato designa uma corrente da pintura norte-americana surgida na segunda metade do século passado, integrada por pintores que viviam em Nova York, como Jackson Pollock (1912-56) e Wilhelm de Kooning (1904-97). Trata-se de uma designação imprecisa já que, por vezes, as obras não são tipicamente abstratas, nem caracterizadamente expressionistas e, em certos casos, confundem-se com a action painting.

Outro ponto de vista desta corrente é a negação da concepção clássico-acadêmica, segundo a qual existem áreas nobres na tela (que seriam as zonas centrais). Para estes artistas, todas as áreas são igualmente importantes e a composição tradicional estaria ultrapassada. A superfície pintada deveria obedecer a uma composição holística, isto é, todas as zonas teriam importância estética equivalente.

Abstracionismo geométrico: em 1920 surgiu um Manifesto Realista inspirado por Kazimir Malevich (1878-1935), o qual advogava uma estética comprometida somente com seus aspectos visuais, desligada das finalidades práticas. A natureza, as cores, a luz e a perseguição do naturalismo deveriam ser abandonadas, limitando-se às cores com sobriedade, para se abordar as estruturas das imagens com uma geometria básica, fundamentada em triângulos, retângulos, círculos e quadrados. Esta corrente chamou-se suprematismo, a qual Malevich pôs em prática a partir de 1914.

Na mesma linha, podem citar-se Piet Mondrian (1872-1944) e Theo von Doesburg (1883-1931).

No Brasil, o abstracionismo geométrico surgiu a partir da segunda metade do século 20, propondo igualmente a negação de todas as versões do naturalismo, mesmo quando aparentemente abstratas. Caso do Grupo Ruptura, criado em 1952, por Valdemar Cordeiro (1925-73), Geraldo de Barros (1923-98), Lothar Charoux (1912-87) e, numa data mais recente, Arcângelo Ianelli (1922-2009). No Rio de Janeiro foi o Grupo Frente. Era um geometrismo radical, que teve entre seus seguidores Ivan Serpa (1923-73), onde militaram Lygia Clarck (1920-88), Lygia Pape (1929-2004), Hélio Oiticica (1937-80) e Franz Weissmann (1911-2005). Os defensores da abstração geométrica não podem classificar-se em associações determinadas, porque houve manifestações individuais, caso de Milton Dacosta (1915-88).

Hoje se prefere a designação arte não figurativa, usando-se menos correntemente arte abstrata.

No Brasil, a Primeira Exposição Nacional de Arte Abstrata foi realizada em 1953, em Petrópolis, Rio de Janeiro. Os Museus de Arte Moderna (como São Paulo, Rio de Janeiro e Niterói) são os “templos” que cultuam a pintura não figurativa.

Entre os nomes que abraçaram esta tendência, podemos citar: Cícero Dias (1908-2003), Antonio Bandeira (1922-67), Ivan Serpa (1923-73) e Eduardo Sued (1925). Entretanto, é justo destacar que a arte não figurativa foi, em algum momento, praticada pela maioria dos pintores nacionais, a partir da segunda metade do século 20.



Abstracionismo, Ascanio MMM, Relevo, Madeira pintada, 1981    Abstracionismo, G. Braque, Copo na mesa, 1909    Abstracionismo, J. Pollock, Nascimento, c.  1941    Abstracionismo, K. Malevich, Suprematismo dinâmico, 1915    Abstracionismo, Kandinsky, Amarelo-vermelho-azul    Abstracionismo, P. Klee, Comédia, 1921    Abstracionismo, P. Klee, Olhando as sombras    
 
Abstracionismo, P. Klee, Senecio    Abstracionismo, P. Mondrian, Composição, 1929    Abstracionismo, P. Mondrian, Tempestade    Abstracionismo, Rio Omo, Etiópia    Abstracionismo, T.v. Doesburg, Contra-composição XIII, 1925    Abstracionismo, T. von Doesburg, Composição aritmética, 1930     Abstracionismo, T. von Doesburg, Composição aritmética, 1930
 
    Abstracionismo, W. Kandinsky, Cossacos, 1920