Fanático, tarado e fominha

Revelo que fiquei perplexo com a notícia do falecimento do Pedro Paulo Vivaqua que recebi através de um e-mail do Tof. Não queria acreditar. Fui ao obituário do Jornal do Brasil e lá estavam dois avisos a confirmar esse triste acontecimento.

Conheci o Vivaqua em 1958 no Colégio Nova Friburgo. O vi, pela primeira vez, cantando uma musiquinha em um couro que participavam: Fernando Moura Augusto, Carlos Alberto Soares, o próprio, e outros que não me lembro mais. A musiquinha (dita nesse sentido por ser de muito má qualidade) dizia: "lá naquele morro / tem uma escola / todo mundo bebe / todo mundo cola / e os professores / que são uns gaiatos / fazem dos alunos / verdadeiros patos / e, as provas parciais / eu não agüento mais // física, química, história geral / essa abalou até o próprio Moral... ", (esse era um cara que tinha o apelido de Moral por ser muito estudioso, ou melhor, dedicava todo seu tempo para estudar, eu não sei se era o Hélio Rotta Nicoletti, que parecia um padre e era cdf .

A letra da música era subversiva (imagine!) mas era admitida, no entanto, porque tinha a complacência do Prof. Viana, que dava gargalhadas a cada estrofe que era emitida por aqueles folgados que tinham a ousadia de criticar e ridicularizar a estrutura de um colégio do gabarito do Cnf .O Vivaqua era um dos mais entusiasmado com as cantorias nos intervalos das aulas. Eu era novato e só consegui entender, algum tempo depois, como um professor podia ser amigo dos seus alunos e conviver com a garotada naquela e em todas as circunstância.

Depois, me lembro do P2 quando vi sua assinatura. Ele assinava, com convicção "P2 Vivaqua". Uma vez eu perguntei: Que negócio é esse de 2 após o P no teu nome? Ele, professoralmente, me explicou: um P de Pedro e P de Paulo, eu simplifico e fica P2. Ah! Entendi.

Ele gostava de jogar tênis. Um dia organizaram um torneio no ginásio de esporte. Recordo dele dizendo. Vou "papar" esse. Não papou nada. Quem ganhou foi o Bradley , um cara que só ficou um ano no colégio. Cobrei dele : Pô, tu não ias ganhar? Ele me disse: esse Bradley é foda ele joga tênis desde criança. Ah, então tá bom.

Nessa onda de tênis ele conseguia umas descidas para a cidade para jogar alegando que o colégio não oferecia estrutura para seu esporte favorito. Freqüentávamos a casa do Maurício Vieira, em Friburgo e lá, uma vez, justo quando estávamos tratando de relevantes assuntos de interesses superiores, me convidou para que eu fosse passar um fim de semana na casa dele no Rio.

Lembro como se fosse hoje: era uma casa lindíssima, tinha piscina e uma quadra de tênis de saibro. Ficava na Barra da Tijuca e era bem em frente ao Itanhangá Golfe Clube. Sua mãe – uma senhora muito bonita – nos recebeu e dirigindo-se a mim perguntou se eu era o amigo do Pedro Paulo lá do Pará. Naquele fim de semana lembro bem de termos jogado tênis e tomado banho na piscina e falado mal do Cnf. Sim, lembro que fomos tentar ver as meninas do Itanhangá. Ele fazia algumas restrições pois, dizia ele, aquelas meninas eram muito sofisticadas e não vão nos dar bola.

Tempos depois, põe tempo nisso, já me recordo do P2 no Hotel Buski naquela reunião que houve logo quando do início da formação da Associação dos Exs, promovida pelo Márcio Braga. Estava ele com um Mercedez Benz cuja Chapa era: PP 0001 – Terezópolis.

Sobre o carro e mais ainda pela chapa eu fui logo em cima: cara tu estas rico! Retrucou ele, eu tenho ganho dinheiro a custas de teus conterrâneos eu vendo muita carne seca para o Pará. Isso me chamou atenção porque tenho colocado em discussão, em Belém, a falta de imaginação que o paraense tem para empreender. O P2 estava me dizendo que era um comerciante e estava ganhado seu dinheiro com as coisas mais simples.

Nessa altura ele me apresentou sua família, pela qual indaguei, em um encontro mais recente – sete de setembro –, e ele me disse estar "mudando de vida". Não entendi bem o que estava se passando e sugeri, estávamos agora na concentração da Cadima, que desfilasse pelo Cnf que iria sair daí há alguns minutos. Ele me disse que só o faria se lhe dessem um tarol, poderia ser uma caixa, fazendo por menos, naquela altura, os instrumentos, já todas comprometidos com os fanáticos da banda. Dissemos: "esses caras são uns tarados, falou em banda eles ficam excitados... ". Queríamos nos referir ao Mussi, The Best, Suen, Mário Castilho, Waldirzinho, Bella, Bohrer, Erthal, Braune, Parkinson, Goiabada, Marcelo Cerqueira, Borke, Lopinho, Paulo Eurico, Paulo Perôbo, Reinaldo Henriques e outros não menos fominhas.

Vou lembrar do meu amigo P2 sempre com alegria de um cenefino: fanático, tarado e fominha.


Afonso Brito Chermont

Cnf 1958 / 1964

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