DO GORDO VIANA PARA CHEIRINHO COM AMOR


De: GnfCnf <gnfcnf@bridge.com.br>
Data: Segunda-feira, 18 de Setembro de 2000 09:45
Assunto: COM CHEIRINHO DE AMOR
Centro de Cultura cclf@cclf.org.br

Mônica Jácome

Oi, cenefistas queridos.

Meninos, vocês também, embora que num certo aspecto, podiam caprichar mais. Com relação a esse aspecto, aliás, deu no jornal friburguense "A VOZ DA SERRA", de 9 de setembro:

********* PERFORMANCE **********

"Comentário de um atento assistente do desfile de 7 de setembro, na Alberto Braune:
"As ex-alunas da Fundação Getúlio Vargas estão dando um banho nos ex-alunos'.
"Referindo-se, basicamente, ao estado 'atlético' dos marmanjos, todos apresentando barriga acentuada."
Sorry, meninos, mas um pouquinho de vaidade nunca fez mal a ninguém.


Mônica querida:

De carapuça colocada, uma vez que, desde os tempos do ginásio, tenho criado e cultivado uma barriguinha que, com o passar do tempo, não ficou mais discreta, venho explicar uma coisa que parece ter-lhe escapado à compreensão.

A reprodução sexuada foi o método que a Natureza encontrou para criar diversidade genética.

Os primeiros seres vivos se reproduziam por cissiparidade, processo pelo qual o descendente era exatamente igual ao antecedente. Inicialmente era um processo adequado, porque as variedades eram tão poucas, e os obstáculos à vida tão pequenos (nesse ângulo), que a adaptação às condições mutantes do ambiente não se fazia notar. Com o tempo e a complexização, os organismos evoluíram e inclusive se tornaram multicelulares, daí dando origem aos reinos vegetal e animal. Ainda quando só haviam vegetais, a Natureza já percebeu a conveniência da sexualização, ou seja, da divisão das células germinativas de forma a que uma metade, portando metade da carga genética, pudesse se combinar com outra metade de outro ser, misturando suas cargas e criando um terceiro; a experiência mostrou que esse processo era melhor, e por isso ele prevaleceu. Com o tempo, surgiram os animais; se entre os vegetais essa disposição tem prevalecido desde então, entre os animais é a regra - pelo que entendo, absoluta.

Assim, o animal ao qual chamamos fêmea entrega meia célula, o animal chamado macho entrega outra metade, e cria-se um terceiro ser; essa entrega é feita para aquele chamado fêmea, que possui os órgãos habilitados ao abrigo e alimentação do concepto.

Qual é o papel do animal chamado macho? Entregar as células complementares.

Que mais?

Durante milênios, os machos da espécie humana conseguiram manter um padrão social através do qual a eles ficavam destinadas determinadas tarefas, excluindo a possibilidade das fêmeas as executarem: guerra, caça, trabalho e governo. Com isso, se mantinham ocupados e afastados da possibilidade de fazerem besteiras, ao mesmo tempo que pareciam estar desempenhando um papel indispensável e importante no quadro social, enquanto as fêmeas realizavam as tarefas indispensáveis à sobrevivência da espécie: a criação da descendência (note-se que foi eficaz, pois até hoje a espécie ainda não se extinguiu).

(Não podemos deixar de lembrar que, sendo as fêmeas que criam os filhos, educam-nos de acordo com seus princípios e verdades; assim, os machos são, e sempre foram, aquilo que as fêmeas desejaram deles. Assim, se as coisas são como são, nada faz duvidar que seja por desejo, determinação e orientação feminina.)

Neste século XX da era Cristã, contudo, as fêmeas mudaram de pensar, e passaram a desejar ser algo diferente; algo mais. Talvez seja um salto evolutivo: resolveram assumir também os encargos masculinos e, como nós nos deixamos acostumar com a moleza, não percebemos a tempo o que estava sucedendo e permitimos que isso acontecesse. No período compreendido entre a década de 20 e a de 70, as fêmeas assumiram o direito de trabalhar (a caça já era obsoleta) e, na década de 80, o de guerrear e governar.

Que restou aos machos? Segundo Luis Fernando Veríssimo, a única coisa que podemos fazer hoje, e que as mulheres não são capazes, é ser drag queen; e ainda como sempre, fornecer espermatozoides.

Na década de 90, contudo, um doido (macho, que mais podia ser?) criou a possibilidade de clonagem de células humanas. Ficou a fêmea, assim, habilitada a se multiplicar sem necessitar de nossa (prazeirosa, como não?) ajuda.

Subitamente conscientes de nossa obsolescência e inutilidade, desesperamo-nos.

Algo, contudo, já se insinuava em nosso inconsciente há muito tempo; sabíamos, lá no fundo, onde ia acabar essa moda das fêmeas trabalharem.

Desprovidos de "todos" os nossos direitos, que fizemos? Alguns tentam se adaptar se fazendo passar por fêmeas, para encontrar uma razão de ser, mas resultam sempre frustrados porque não contam com o equipamento indispensável para tanto (útero, ovários, etc); os mais lógicos aceitaram permanecer como machos, mas tentam um artifício para se assemelhar a elas: como se fazer passar por fêmeas, se nos falta a suavidade das curvas, o corpo pelado, a elegância de uma roupa colada com algo fazendo volume em cima e nada fazendo volume em baixo? A-ha! Imitamo-las exatamente naquilo que elas têm de diferente: o volume abdominal da gestação!

Assim, por favor: deixem-nos em paz, a sós com nosso desespero; até porque, pelo caminhar da carruagem, não será por muito tempo. Logo se implantará o Reino das Amazonas

Um abraço do

Gordo Vianna
57-60
paulovianna@ativanet.com.br

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