Túlio Roberto Cardoso Quintiliano

Caros amigos,

A imprensa tem noticiado, bastante, sobre a prisão de Pinoche. Em uma reportagem na TV ouvi sobre assassinatos de presos políticos e, em dado momento , quando se falava de cada brasileiro morto um mereceu, de minha parte, uma especial atenção: Túlio Roberto Cardoso Quintiliano.

Conheci Túlio no CNF, em 1958, ele era de uma turma onde estudavam: Silvério, Langoni, Adilson(que esteve conosco no último encontro, justo, na hora do desfile), Magalhães... O Silvério deve se lembrar, também. Claro que mantínhamos, no CNF, uma convivência muito fraterna. Lembro do Túlio jogando futebol(ouvia do Prof. Danni, que gostava muito de futebol, que ele era um craque), no meio de campo, com as meias abaixadas, cabeça em pé, passando certo. Como aluno ele era muito interessado: tinha um poder de se concentrar muito grande. Uma vez, Silvério fez um comentário comigo que guardei, até mesmo, como um ensinamento. Dizia: que o importante nos estudos é a concentração! " olha o Túlio – quando ele está estudando v. pode chamar que ele não te escuta". De fato, o que se discutia, no nosso pensamento quase infantil, era o poder da mente e sua ilimitada capacidade.

Bem depois, em 1961 ou 1962, recebi um telefonema do Túlio que estava em Belém visitando seu pai, o jornalista Airton Quintiliano, que escrevia aqui em um jornal que se chamava Folha do Norte. Fui ao seu encontro no hotel onde estava hospedado – Grande Hotel –, lembro-me bem que era no final de tarde e falamos muito sobre o cnf, os amigos, futebol, as mulheres daqui e de Friburgo, recordo de ter-lhe explicado as coisas da política no Pará. Era o papo da época! No dia seguinte saímos para um passeio, eu tinha um jeep Willis e o conduzi a alguns pontos de Belém. Túlio era muito detalhista, tudo para ele tinha uma explicação lógica. Também, disse-me que havia tomado açaí e que gostara mas, da farinha que complementava essa bebida paraense, não havia gostado. Quando eu ri dessa afirmativa, revelando minha indignação, pois, para mim, açaí com farinha de tapioca era uma de minhas comidas preferidas, tinha tanto valor quanto a rapadura para o Nordestino, ele justificou: sim, aquelas bolinhas brancas não tem gosto de nada.

Túlio era acima de tudo um boa praça. Na TV, quando da reportagem dos assassinatos dos presos políticos no Estádio Nacional de Santiago, saiu uma foto sua e pude rever seu olhar de um autêntico cenefinno, bom de cuca, bom de caráter e que o radicalismo daquele general, nos privou de sua convivência.

Outubro de 1998

Um abraço a todos

Afonso Brito Chermont

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