Crônica de um Jornal de Friburgo,
colaboração de João Marcos Moraes
PUBLICADO EM SETEMBRO DE 1990


Momentos depois, adiantavam-se por mim os alunos do Ateneu. Cerca de trezentos; produziam-me a impressão do inumerável. Todos de branco, em larga cinta vermelha, com alças de ferro sobre os quadris e na cabeça um pequeno gorro cingido por um cadarço de pontas livres. Ao ombro esquerdo traziam laços distintivos das turmas. Passaram a toque de clarim..."

O trecho acima, transcrito do romance O ATENEU, do escritor Raul Pompéia, nascido em Angra dos Reis, em 1863 e falecido no Rio de Janeiro, em 1895, serve-nos de intróito para registrar que neste ano, se houvesse sido dada continuidade em seu funcionamento, o COLÉGIO NOVA FRIBURGO, DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, estaria completando 40 anos de existência. Aliás, ele completa...

O pequeno trecho do ilustre escritor patrício me transporta, em devaneios, à minha infância/adolescência, ocasião em que aquela modelar escola vivia seus anos de ouro.

Na minha cabeça de menino pobre, o sonho de, algum dia, poder estudar na FUNDAÇÃO (denominação popular do educandário) sempre se fez presente e era com orgulho de pseudo-estudante que, nas paradas cívicas, postava-me, extasiado, à frente dos adultos que se acotovelavam nas calçadas da Avenida Alberto Braune, para vê-los passar. A pancada firme e uníssona dos bumbos, o repicar dos tambores e o soar do clarim, tinham em minha alma o efeito mágico da varinha de condão e eu me via ali, orgulhoso, ostentando o uniforme da escola, onde em vermelho vivo, era estampada a figura de um dragão, imponente em sua grandeza. Não importava que fosse um sonho. O importante é que eu ia ver o desfile para ver a FUNDAÇÃO. A "minha FUNDAÇÃO".

Quando o governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu o jogo em todo o território nacional, fechando - em conseqüência - os cassinos, o prédio existente no Parque da Cascata e que fora construído para tal finalidade, acabou por servir a um projeto do próprio governo que visava implantar uma escola experimental, de segundo grau, que fosse tida como padrão de ensino. Nascia, em 1950, o COLÉGIO NOVA FRIBURGO, da FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS.

Durante quase 30 anos, o colégio funcionou nos moldes como fora projetado: uma escola-padrão dentro do ensino brasileiro. Com os regimes de internato e semi-internato, a FUNDAÇÃO abrigou, em suas dependências um sem número de estudantes, oriundos dos mais diversos cantos do país, cujas famílias faziam questão de matricular seus filhos (homens) naquele que era considerado o melhor colégio do Brasil. Pelos seus bancos e carteiras passaram nomes ilustres que hoje se destacam no cenário brasileiro, em quase todos os ramos de atividade.

No período em que funcionou, o colégio e seus alunos criaram fama: aquele como uma verdadeira escola-universidade onde o ensino atingia um grau bastante elevado para os padrões nacionais e esses, por serem - em sua maioria - filhos de famílias abastadas, o que causava aos

alunos dos demais colégios da cidade, uma certa ponta de inveja, objeto quase sempre de acirradas e violentas disputas que, não raro, culminavam com brigas e agressões. Houve época em que os alunos da FUNDAÇÃO eram obrigados a andar em grupos, pois sozinhos, se descobertas suas identidades, eram alvos de ofensas e provocações. Eram os reis dos bailes e das festinhas. Daí, a inveja.

Ao final de quase três décadas de ensino, acumulado de dívidas, transformado em escola mista e sem ter acompanhado a evolução dos padrões do ensino que o deixasse na vanguarda da educação nacional, dava o seu último suspiro o COLÉGIO NOVA FRIBURGO. Seu fechamento -como era de se esperar - não foi revestido da pompa de sua inauguração. Somente a cidade - em quase todos os seus segmentos - gritou contra a monstruosidade que aquela ato significava.

Mas, se fechou a escola, uma entidade, a ela ligada, renascia com vigor e a tenacidade daqueles que, durante toda a sua existência, pugnaram pelo seu bom nome: a ASSOCIAÇÃO DOS EX-ALUNOS, PROFESSORES E SERVIDORES DO COLÉGIO. A ela deve-se em parte, a reabertura do Parque da Cascata como escola, já que ali, neste ano de 1990, foi inaugurado o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro, dedicado a pesquisa científica e tecnológica, além da Fundação Natureza, mantida pela ASSOCIAÇÃO e que promove encontros ecológicos e o Centro de Ciências, que trabalha na reciclagem de professores da rede pública, inclusive em Educação Ambiental. Foi esta a fórmula encontrada para dar continuidade ao trabalho educacional ali desenvolvido pelos pioneiros.

Hoje, quarenta anos depois, chega-nos a notícia de que a ASSOCIAÇÃO DE EX-ALUNOS está marcando uma série de atividades para comemorar o evento. Dentre elas, em desfile cívico de seus ex-alunos, neste Sete de Setembro, acompanhados pela sua inigualável fanfarra. Será sem dúvida um momento de rara beleza e emoção, vermos reunidas pessoas das mais diferentes posições e idades, comemorando não só os quarenta anos de sua querida Escola como a sua reabertura como entidade de ensino.

De minha parte, só posso dizer que formarei fileira com eles e, mesmo que apenas em sonho, como o da minha infância, marcharei junto, cabeça erguida, ombros abertos, olhar firme no horizonte, na certeza de que como PSEUDO-EX-ALUNO, orgulho-me tanto do colégio como se um deles fora. Parabéns a essa ASSOCIAÇÃO pela feliz idéia do reencontro...muito obrigado por me proporcionar a lembrança de meus sonhos de adolescência.

NEIR MELLO

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