Entrevista com Laçé

Em recente visita a Nova Friburgo, o grande mestre de capoeira André Lacé concedeu uma entrevista exclusiva ao A VOZ DA SERRA, em que fala sobre o papel que esta modalidade esportiva ocupa atualmente entre os jovens.

André Lacé está lançando seu livro A Volta do Mundo da Capoeira, no dia 26 de no Country. Como ex-aluno do Ginásio, mais tarde, Colégio Nova Friburgo, o lançamento será promovido pela Associação dos Ex-alunos do colégio,

A VOZ DA SERRA - Fale um pouco sobre sua vida de capoerista.

ANDRÉ LACÉ— São mais de 40 anos acompanhando a prátrica da capoeira, inicialmente aprendendo e ensinando e, mais tarde, como diretor nacional de capoeira da Confederação Brasileira de Pugilismo. Já escrevi mais de duzentos artigos sobre o assunto, criei e apresentei dois programas de rádio no Rio de Janeiro e todos anos faço muitas viagens pelo Brasil e exterior, realizando pesquisas e palestras.

VS - Vocé poderia definir, em poucas palavras, o objetivo de seu livro?

AL - Não é um livro de bravatas nem de fantasias sobre grandes mitos do passado. Apenas informo e faço reflexões sobre o que chamo de "processo de institucionalização da arte afro-brasileira e capoeiragem’, sugerindo que todos façam o mesmo.

VS - O que quer dizer capoeiragem?


AL - Como regulamentar e disciplinar esse fascinante fenómeno popular livre como o vento", cuja essência é a total liberdade de movimentos.

VS – Qual seria a solução?

AL- Está na hora das lideranças da capoeira tornarem conhecimento, assumindo claramente suas posições. É preciso tomar uma posição clara em relação à Lei n 9.696, de 01/09/98, que praticamente joga a capoeira no colo dos professores de Educação Física. O ideal seria revogar esta lei, pois há riscos dela até vir a exterminar a verdadeira capoeira, a tradicional. Também precisamos combater um projeto de lei que está no Senado e que pretende também "paternalizar" a capoeira. Valeria citar, ainda, o Regulamento Internacional da Capoeira, que foi aprovado ninguém sabe por quais países.

VS- De que mais trata o livro?

AL- Meu livro procura resgatar algumas verdades históricas importantes para uma compreensão plena, sobretudo da capoeira como esporte e da capoeira como luta.

VS-Como assim?

AL-Há vários exemplos, como as afirmações magistrais feitas pelo mestre Bimba. Numa esclarecedora entrevista que ele deu ao Diário da Bahia, em 1936, ele já dizia que a polícia iria regulamentar estas demonstrações. Esta e outras afirmações similares provam o conhecimento e a admiração de Bimba pela capoeira praticada no Rio e que inspirou a redação da capoeira regional.

Alguns mestres e estudiosos da Bahia estão um pouco enciumados e escabriados com esta aparente perda de status e de poder Mas esta perda é apenas aparente, pois a contribuição da Bahia, em todo este processo, tem sido inestimável. Entretanto, até os mais enciumados estão começando a utilizar meu livro ( nem sempre mencionando a fonte...) em suas aulas, palestras e artigos.

Personagens ímpares da capoeiragem fluminense e carioca, como Juca Reis, Manduca da Praia, Cyriaco, Zé Galequinho, Camisa Preta, o grande e vitorioso Sinhozinho, André Jensen, Luiz Ciranda, Rudolf Hermanny e outros já começam a merecer a devida atenção do mundo todo. Da mesma forma, estudiosos, jornalistas, cartunistas e escritores como Raul Perderneiras, Calixto, Zuma Burlamaqui, Inezil Penna Marinho, Lamartine Pereira da Costa e Luiz Sergio Dias também começam a ser lidos e discutidos. Além de justa, esta revolução é extremamente salutar para o entendimento pleno do fenômeno capoeira.

VS - Como será o lançamento do seu livro aqui em Friburgo?

AL - Será difícil para mim voltar a encontrar uma união de forças tão positiva e eficaz. A figura simpática e eficiente do coordenador do Centro Cultural do Nova Friburgo Country Clube, o conhecido Jaburu; o competente e objetivo Henrique Cordeiro Correia, da Múlltipla; e o médico André Freire, um velho amigo, especialista em pediatria e cultura popular brasileira. Vale lembrar, ainda, a grande receptividade do próprio presidente do Country. James Lessa Alvarez; do Alexandre "Anchieta’ (foi aluno do Colégio Anchieta, grande adversário, no futebol, do GNF...); do Renato Bravo, gerente do Sesc/NF; de Reginaldo Andrade, o mestre Caroço, do Grupo Barravento; de Leandro Luiz, o instrutor Gaúcho, deste mesmo grupo; e, por ultimo, mas não em último lugar, do meu querido colega do GNF, Sylvio Lago, cujo livro, A descoberta da música..., absolutamente surpreendente, deve ser lido por todos, pois é uma obra-prima.

VS - Qual seria o püblico alvo do seu livro? Ele se dirige apenas aos mestres de capoeira?

AL - Não, o livro se dirige a professores e alunos de colégios, faculdades e universidades. Espero atrair também a atenção do administrador público e do empresariado. A capoeira é um fascinante fenômeno multifacetado, polivalente, que invade um sem número de áreas, especialmente aquelas relacionadas com a música, a comunicação, à história, sociologia, antropologia, geografia, administração, saúde, educação e até o direito.

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