VIDA COMUNITÁRIA

O relacionamento fraterno e amistoso - talvez o único dentre os internatos brasileiros - existente entre os alunos do CNF, bem-aventurados rapazes que tiveram o privilégio de estudar no ginásio das montanhas friburguenses, era realmente o ponto alto da nossa convivência. Lá não havia as acirradas disputas que hoje prevalece nos bancos escolares e na sociedade como um todo. Tampouco tinham o espírito individualista de galgar e atingir o que quer que fosse menosprezando o colega ou fazendo de sua cabeça um insólito degrau. As vitórias acontecidas eram, via de regra, fruto de méritos exclusivamente próprios.

Nosso cotidiano era alegre e o espírito co,~n unitário e participativo regia com sucesso as nossas atividades.

As brigas ocorriam, mas eram esporádicas, sem rancor e, na maioria das vezes, geradas por motivos irrelevantes.

Nunca briguei naquele colégio. Raríssimas, vezes discuti ou tive qualquer forma de indisposição com colegas ou professores.

Um dia porém

Estávamos no refeitório terminando um almoço quando chegou a sobremesa trazida pelo "maitre d’hotel", o Alípio. Eram bananas. Uma penca delas foi deixada em nossa mesa para que cada um pegasse uma. Pela posição que estava na mesa deveria ser eu o último a me servir. A trajetória da penca, que fluía após o "primeiro peru" ter se servido realmente me habilitava como último da fila. As frutas estavam quase chegando as minhas mãos quando o Osmarino, o Zé Meleca, de astral elevado e positivo, querido por todos, as fez voltar para as suas mãos a fim de trocar uma já regeitada banana, feia e amassada, que estava consigo. Calmamente pegou outra em bom estado. A imprestável fruta acabou sendo a única que restou e veio, ainda mais lesada do que estava, parar na minha frente.

Por um instante fiquei puto da vida e joguei a dita cuja ncrdireção do Zé. Osmarino levantou-se também puto e veio em minha direção. Levantei-me também. Porrada iminente no refeitório, O grandalhão Hélcio Matana Saturnino interpôs-se entre o Zé Meleca e eu e os tapas que provavelmente viessem a ser dados não aconteceram até também pela chegada do prof. Jorge Abib que lá dava o seu plantão. Ficou inferido, contudo, que lá fora, durante o recreio, na concha acústica quem sabe, as nossas contas seriam acertadas.

Cada um foi não sei para onde porém com a possibilidade de nos cruzarmos. Tocado o sinal para reinício das aulas, casualmente, dei de cara com o Zé no saguão principal da portaria.

"Zé Meleca!" gritei, "Caçapa!" gritou ele. Então nos atracamos..., num grande e caloroso abraço fraterno.

Às risadas comentamos que teríamos brigado à toa a preço de banana.

Assim era o CNF que marcou nossas vidas para sempre.

Antonio Carlos Bastos Junior (Caçapa) -1960/1

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