UMA EDUCAÇÃO EXCEPCIONAL
Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social

Há cinqüenta anos, foi inaugurado pelo Presidente Eurico Dutra, em Nova Friburgo, RJ, um internato de ensino secundário, o Colégio Nova Friburgo (CNF), de propriedade da Fundação Getúlio Vargas. A iniciativa resultou de projeto concebido pelo presidente da FGV, Luiz Simões Lopes, inspirado em internatos ingleses para meninos (como o do filme A Sociedade dos Poetas Mortos). Tentando adaptar a instituição às condições brasileiras, Simões Lopes, juntamente com a educadora Irene de Mello Carvalho, imaginou uma escola onde houvesse clima de ampla liberdade, com auto-disciplina dos jovens, professores selecionados através de processos rigorosos, em escala nacional, e vida comunitária em ambiente semelhante a um campus universitário, onde morassem não só os estudantes, mas também os professores e demais funcionários da escola. Em 1952, depois de passar por um exame de seleção nacional, fui para lá, com 11 anos de idade, fazer o admissão (que durava um ano todo). Longe de minha família, residente em Pernambuco e que eu via nas férias, nunca me senti deslocado no ambiente do CNF, em que fiquei até concluir o científico (em 1959).

A escola tinha uma localização privilegiada, quase 200 metros acima da cidade de Nova Friburgo, rodeada de montanhas, em 400 ha de área privada sua, com fontes de água próprias, belos jardins e um prédio central em estilo normando, lembrança em pequena escala do Hotel Quitandinha, de Petrópolis. Dispondo de um edifício para atividades esportivas em ambiente fechado (o lugar era muito frio, com temperaturas no inverno que chegavam a 2ºC), a escola contava ainda com campo de futebol e atletismo e quadras e piscinas ao ar livre. Compondo uma pequena vila, margeavam o campus do educandário, bem no sopé de suas elevadas montanhas, residências de muito boa feição, confortáveis, com lareiras, onde viviam os professores casados, além de outras casas, mais simples, dos funcionários administrativos do colégio.

Se o cenário era extraordinário – como podem comprovar os pernambucanos que lá estudaram, a exemplo de meu irmão Cláudio, Fernando Freyre, Luiz Carlos Freyre, Gustavo Queiroz, José Almino e Guel Arraes, Antônio José Lemos, Jorge Gomes Barros e muitos outros mais –, a educação que nele se oferecia só pode ser classificada com uma palavra: excepcional. Não que o Colégio tivesse o propósito de preparar gênios ou pessoas superdotadas. A questão é que, dentro de uma vida que, hoje, em retrospecto, parece claramente a de um hotel de muitas estrelas (dispúnhamos de muitas mordomias), tínhamos aulas e orientação extra-curricular, realizávamos práticas esportivas, etc., em nível da melhor qualidade. Era tempo integral de educação (que entrava pela noite, nos "estudos"). O Colégio possuía um sistema em que chegávamos numa segunda-feira à tarde, tendo-se aulas de terça a sábado (das 8h às 18h, com intervalos, é óbvio). No domingo, pausa, retomando-se o ritmo na segunda-feira, com aulas só até às quintas. Aí, uma interrupção, sem aulas, de sexta a segunda-feira, quando os que moravam não muito longe viajavam a suas casas. Até hoje, confesso, nunca vi nada parecido. Todo mundo gostava, pois estudávamos muito, mas também nos divertíamos. O bom rendimento era visível (eu aprendi lá francês, inglês e espanhol). A escola custava caro, como a boa educação em geral. Por isso, durou somente até 1977, quando, dobrando-se à mediocridade, teve de cerrar suas portas. Seu fabuloso patrimônio, meno male, está a serviço, hoje, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

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