CARTA A UM AMIGO

 

Em determinadas horas tenho vontade mesmo de te chamar de Bella, está certo, com dois ts para disfarçar o apelido que, aliás, tu nunca te importaste. Chamando de Bella fica mais próximo, o espaço e a época.

Li o teu texto com o interesse de um jovem quase sexagenário e o entusiasmo que fui tomado foi muito grande. Fiquei satisfeito de saber do teu carinho pelas coisas daquela época. Realmente, foi um momento agradável nas nossas existências que não poderemos jamais esquecer e, estamos, de uma certa forma, mantendo-o vivo graças a convivência, prazerosa, durante os encontros anuais.

Achei o texto genial porque ele descreve apenas a chegada no colégio, bastante coisa ainda tem que ser contada e dita. Cada detalhe que tu te referes me é familiar – a cor do terno, a gravata grená, o sapato marrom ( ainda não o conhecias como canaleta ), a caminhonete amarela, o olhar dos transeuntes, a ladeira íngreme, a densa vegetação. Foi uma viagem , para mim, o teu escrito.

Me lembrei dos teus pais. Ele, um senhor mais velho com um ar supremo de austeridade e, D. Vera, que a tenho nas minhas lembranças, com muito carinho. Anos após de termos saído do colégio me recordo que ela me pediu um remédio aqui do Pará, acho que era sacaca, que era bom para uma série de coisas: rim, fígado, intestino, mantinha o colesterol baixo e, por vai. Logo que retornei a Belém enviei o milagroso remédio e, logo depois, recebi um carinhoso agradecimento com a comunicação de que ela estava se sentindo bem melhor e que o efeito tinha sido muito bom. Ela está no céu ainda vibrando conosco e pedindo para nos estudemos mais e joguemos menos basquete.

Claro que, também, lembro do Bellinha. Uma outra personalidade, diferente do irmão mais sisudo, diferente de todo mundo, de uma alegria incomparável. O cara era muito engraçado e sempre tinha uma pronta para disparar. Lembro dele como se fosse agora: a queda do terceiro andar se constituiu em um dos fatos mais comentados, até hoje, como das maiores travessuras de um aluno Cnf.

Num desses encontros, cinco seis anos atrás, estávamos no Hotel Everest, vi D. Vera rindo muito. Me aproximei para saber do que se tratava, ela me contou que o Belinha não havia subido de carro com o Osmarino porque não sabia quem era. Disse ele depois que se soubesse que era o Zé Meleca teria vindo com todo prazer.

Lembro dos nossos amigos: Paulo Perobo, Neville, Julo ( tenho me comunicado por e-mail com ele ), Baroni (não vi nunca mais ). Ainda outro dia, pensando no tempo, com algumas pessoas de Friburgo ( Alberto Braune, que estudou em uma época muito depois de nós e o Carlinhos que serviu o Tiro de Guerra comigo que estiveram em Belém e me procuraram ) me referi a Solange, ( irmã do Zé Bombeiro ) que era uma beleza de moça e que tu dissestes ser minha musa dos anos 60. Recordei do encontro que tive com ela na Praça General Osório ( naquela época os encontros eram na praça ) e fiquei entusiasmado tanto quanto o entusiasmo que tu descrevestes por poder consumir guloseimas e refrigerantes no prédio do científico )

Teu texto despertou em mim um entusiasmo juvenil. Como é bom voltar a ser jovem. Gostei muito. Era isso que eu imaginava que pudéssemos fazer no tal livro. No site Cnf já tem um bom número de matérias. Acho que o Capelluto está indo bem com a idéia. Sou um pouco conservador. Achei que pudéssemos dar autógrafos um certo dia na FGV, por exemplo, com um livro editado e impresso da forma mais tradicional, com textos tal como está o teu. Acho que ainda poderemos conseguir essa façanha. Sim não esquece de pedir para que O Folheto seja colocado no site, inclusive com as ilustrações que estão muito interessantes.


Meu caro amigo quando chega setembro o meu espírito se renova pois sei que vou estar com amigos vou relê-los a todos e naquele ambiente de beleza única.

Caro Bella recebe um forte abraço do amigo a dispor.

Afonso Brito Chermont

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